04 dezembro 2010

Tem vezes no outono...

quando eu sinto a sua falta é quando eu preciso que minhas rodas girem. ainda não entendi se elas giram para eu te esquecer ou porque um dia você girou as rodas como quem gira um daqueles cilindros indianos. quando eu vejo você mais longe é quando eu preciso ranger as dobradiças, talvez para mostrar que eu não preciso mais da sua ajuda, talvez porque eu queira que você se orgulhe de mim.

eu larguei a casa do vale e o vento e o cristo no canto da janela procurando um rito de passagem meio forçado, um giro na roda gasta e já quase atolada no lamaçal. tentei criar novos domínios, mas não há tempo para tanto, tive vontade de ser melhor mas quase não há com quem compartilhar derrotas, há o olhar, mas falta gente na foto.

e já não sei mais da minha frustração. se eu me envergonho por mim ou por imaginar o que você diria ao me ver. claro que então eu mentiria para que você ainda se orgulhasse de mim, mas no fundo, as rodas ainda estariam empacadas e eu desviaria o olhar sem que você percebesse.

haverá quem diga que eu vim e vivi e que a alma não é pequena, e não é mesmo, mas não foi grande nem altruísta o suficiente para captar esse todo que parece tão ínfimo. e a vontade de ficar beira o perigo de ser apenas para provar que é possível abraçar tudo. mas não é possível e, nos momentos mais lúcidos, dói uma dor fina junto com a mão gelada.

as rodas, quem diria, giraram em falso.

19 julho 2010

Presente

o que é teu bate à tua porta. e, para isso, há de se fechar a porta. bater a porta na cara de quem não tem mais tempo para o seu tempo, fechar a porta daquele que mofou de velho. pois, entre um conformismo e um amor bandido, entre os pedaços colados e a pasmaceira há quem, repentinamente, surja. há, sim, quem se proponha a varrer os cacos com você e para tal é preciso acreditar que não há ninguém, é preciso imaginar que não existe mais niguém, que você terminará invariavelmente só. é preciso parar de esperar, perder a esperança por dois segundos (e dois segundos apenas) e, fechar a porta. assim, fechada, haverá quem bata à porta.

17 julho 2010

Do diário de Suelen Gueiras

... sempre esperei que, depois de tudo, me perguntasse se eu não me incomodava mais em vê-lo, mas nunca o fez. e eu diria que não, incômodo não, era raiva mesmo. Porque ele me fez arrancá-lo da minha vida de forma tão rude, grossa e urgente, cheio de sangue pisado, olhos inchados e silêncios, tudo tão desnecessário que eu guardo uma certa raiva mesmo. Saiu de mim como um siso... e eu sou incapaz de entender porque alguém escolhe sair assim...

08 julho 2010

SUDERJ informa


em tempos de Copa...


Próxima Estação: Maracanã. Desembarque pelo lado direito.
Não precisa desembarcar, os passageiros desembarcam você. A onda se esparrama pela plataforma. Corre que tá na hora. Dá para ouvir o barulho dos fogos de artifício, dá pra ouvir a multidão respirando. Corre, esbarra na polícia, no mundo de gente espremida entre os portões e a avenida Maracanã. Cotovelos, pernas, mão no bolso, porrada, suor. Quem come o churrasquinho não morre pela boca nunca mais. Arranca o salsichão com os dentes da frente, farofa no canto da boca. As pessoas mais feias que você pode ver na vida. O cheiro mais de gente que você pode sentir na vida.

Empurra-empurra. Não empurra, porra! A roleta te suga pra dentro. E nós, só nós brasileiros, tão moldados e sinuosos, sabemos que o que é vivo é o cimento. O que é tão sólido parece flutuar e a fumaça dos fogos é muito mais pesada. Não há quem se meta, quem imponha regra, nós inventamos tudo isso. Nós, nossa casa, nosso concreto, nosso rei generoso.

Grita. Grita. Desce o bandeirão sobre as cabeças morenas. Ninguém senta! Ninguém senta! A FIFA nunca imaginou como as cadeirinhas de plástico são inúteis ali.

Xinga. Xinga. Você nem pensa na educação que sua mãe te deu. Não é bonito, é outra coisa. Só quem vai, sabe. Bonito é pra quem vê da TV. A FIFA acha bonito. A FIFA ás vezes parece que nunca foi num jogo de bola. A Globo também. Hoje em dia a gente até ouve a Suderj! Coisas do pan-americano moderno. Vovô que fez bem em ser América.

Você grita, cala, você corre da briga ao lado, você jura que nunca mais volta. Você desce a rampa de saída imundo, suado, às vezes sem a carteira ou o celular, xingando pessoas que nunca viu e nunca mais vai ver. Os gritos ecoam. Você olha pra trás e o rei está lá sentado e todos olham, mentem e voltam.

07 abril 2010

Do diário de Suelen Gueiras

em envelope nunca endereçado

"... esqueci meu tempo com você, em algum lugar ainda quente do meu corpo na sua cama. não por golpe nem por querer deixar um pedaço de mim para lembrar. desisti dessas pequenezas há algum tempo. esqueci minhas horas, fui da sua casa para a minha, depois para o trabalho, para o cinema. meus espaços passaram por mim e meu tempo com você, no seu bolso. não sei o que pensou dele, também não me importo mais. não me preocupo mais com isso há algum tempo também.

nesse dia em que minhas horas passavam seguras na sua cabeceira, eu percebi que com você só há tempo, essa contagem-regressiva que consome as noites e os dias e que marca a distância entre nós. te dar a mão é fazer o tempo se esgotar, como se fosse demais para as leis da física termos espaço e tempo juntos. e, por mais que eu corresse sabendo desse tempo que acaba, as horas na sua casa, em tic-tac, me lembravam que você nunca soube guardá-lo.

você não pisa no meu espaço, eu invado o seu. você não ouve o coelho que diz "está tarde!", porém, eu corro atrás dele. você não cabe no meu tempo nem mesmo quando ele é seu. e, ao devolvê-lo sem mudar sequer um dos ponteiros mais para trás, uma outra contagem do tempo de nós dois começou, uma contagem que vem do passado para hoje, um tempo que deveria ter sido contado antes, mas não foi. o tempo do tempo perdido com você.

beijo,

S."

27 fevereiro 2010

Se

se um dia você pisasse nas minhas areias, andasse nesses ônibus, se um dia você ficasse debaixo da cúpula do CCBB, se visse o Cristo do início da São Clemente, se um dia você saísse da praia e fosse jantar comigo, se andasse pelo centro e tropeçasse nas pedras portuguesas, se espirrasse no gabinete português de leitura, se visse seu rosto nos vitrais da casa Franklin, se sentisse o vento sob o pilotis do MAM, se visse três filmes seguidos no Odeon, se beijasse minha espinha dorsal como quem vai do chão ao alto do cara-de-cão. se você um dia sentisse meu cheiro de verdade, tocasse nos meus cabelos. se quisesse morar nas casas de vila, se corresse para pegar o bonde, se saltasse do bonde andando. se você pulasse o carnaval daqui, suasse no bloco daqui, sorrisse nas ruas daqui. se achasse sua hora no relógio da central, se perdesse a paciência no trânsito do Rebouças, se cruzasse a ponte vendo o seu avião partir sem você nele, tenha certeza, não existiria nem mesmo uma sombra de poste na qual você gostaria de se esconder sem me dar a mão.


17 fevereiro 2010

Quanto riso ó II

Quarta-feira de cinzas. A cidade e a minha casa são puro confete. Esse ano foi mais ou menos igual ao ano passado. Eu disse mais ou menos. Esse ano teve banheiro químico (o que me fez pensar que o Eduardo Paes nunca foi a um bloco na vida, porque 10 banheiros pra um evento como o Empolga às 9, só quem nunca esteve lá...), esse ano fomos obrigados a tomar Antartica em TODAS as esquinas e ter que aturar aquelas plaquinhas, bola de encher e chapéu de malandro azuis.

Mas enfim, o que importa são as fantasias e não adianta analisar a semiologia de todas elas de novo, mas foi possível identificar novas tendências do carnaval "choque-de-ordem". Desenvolvo a tese:

Fantasia de Brechó: nunca imaginei que diria isso, mas o empilhamento de milhares de peças estranhas e coloridas junto com aquele cheirinho de naftalina fez o meu carnaval. Escalafabéticas e sensacionais!

Fantasias "Ah, minha infância querida": mistura da clássica "fantasia de criança", porém, repaginada para um visual "fantasia de menina". O que mais teve esse ano foi Branca de Neve, o que, na minha opinião seria muito mais interessante se fosse uma "fantasia coletiva" com os anões e a bruxa má.

Fantasias coletivas: Depois do grupo de Penélopes Charmosas e bailarinas barbadas os homens deram um show. As meninas se limitaram às meias listradas e bóias de pato escrito "Patotinhas!".

Fantasia que não é fantasia: se ano passado era o chapéu de malandro (que continua não sendo fantasia) esse ano foi a meia colorida ou os pares trocados! Meia é meia, trocada, com listra ou bolinhas ou não! A menos que a sua fantasia seja de Punky, a Levada da Breca, seja um pouco mais inventivo ou compre um acessório na banquinha da esquina!

Fantasia de tiazona: como já foi dito, elas não têm fantasia, são sempre redondas, suadas e animadas. Esse ano, porém, elas não tinham quase roupa também! Tops e roupa de ginástica marcaram presença.

Fantasia da moda: acho que um clima nostálgico do velho carnaval do Rio tomou a nova geração e a fantasia da moda foi o palhacinho de macacão ou vestidinho de bola coloridas. Um amor, mas deu.



15 fevereiro 2010

Vida Parada

Apesar do carnaval ainda não ter seu fim, o Vida Parada vai ter uma edição de carnaval. Sim, porque a época mais enlouquecida do ano no Rio precisa ser brindada com doses rápidas de esquisitice.


Gordinha comandando carro-pipa do Barbas, em Botafogo.
Notem o item verde no canto da imagem.



AveMariatrêisveiz!Avemariatrêisveiz!Avemariatrêisveiz!
Pela Rio Branco.
Garoto-propaganda da Nestlé.



A melhor batatinha-frita do Boi-tátá, na Praça XV.

08 fevereiro 2010

Cartinha de Natal

Querido Papai Noel, eu sei muito bem que não fui a melhor das menininhas ano passado, mas já passei dessa fase, certo?

sei também (e muito bem) que não pedi nada de Natal no ano que se passou (2009), o que me deixa um crédito. Portanto, como ainda estamos no início do ano e acredito, pela metereologia e pelo Jornal Nacional, que deve estar um frio filhodaputa aí onde o senhor fez questão de morar (sem contar o monte de elfos e gnomos), sugiro que dê um pulinho no Rio de Janeiro, aproveite uma praia (sem contar as mulatas) e deixe meu presentinho.


Colei aqui embaixo uma foto para o senhor não se confundir:



eu quero a fantasia menos peluda e com coroa, por favor. Se der pra chegar antes da quarta-feira de cinzas, MELHOR AINDA!

Obrigada,

Beijos
Mari.

P.S. como o senhor bem sabe, não tenho chaminé, por isso, vou deixar avisado na portaria que o senhor vai subir.

03 fevereiro 2010

Reativo


Para R.,

Dez horas da manhã. A noite anterior acabara às 06:30 ainda com cheiro de cigarro e o eco da música alta. O despertador toca quase dentro da cabeça dele. Levanta-se com a boca seca, a língua dormente e um gosto amargo na garganta. Faz um café que desce torto, bebe três copos d'água. Um cigarro na varanda vendo o domingo ressaquento se movimentar sob seus pés.


Depois de vestido, pega as chaves do carro e por 3 horas dirige até seu destino sem pensar muito em consequências. Ele nunca foi de pensar no que poderia vir depois. Simplesmente reage a uma ação há muito feita e ainda sem fim. Uma ação que lateja como a dor de cabeça que sente naquela manhã. Infinitamente mais doce, porém.


Já havia imaginado tudo: a convidaria para um almoço, ouviria suas últimas novidades, falaria pouco da sua vida porque não havia muito o que dizer. Na verdade, ela era o que ele poderia contar de novo, mas não faria sentido falar dela para ela própria. Observaria atentamente enquanto terminava a sobremesa e então, ao final de tudo, a chamaria para voltar com ele. Pelo silêncio dela, saberia que a viagem seria solitária.


Mesmo assim, fez tudo o que fizera naquela manhã e seguia no carro ouvindo uma música alta para não cochilar. No fundo, não era mais ela, e sim, ele, o motivo de tudo. Por mais que repetisse o nome, viajava por si. Porque era necessário cair no buraco do coelho branco, na vida imaginada, numa desajeitada busca por tranquilidade. Era preciso esgotar-se nas próprias opções, nas perguntas e nas respostas. Por mais que tudo culminasse no silêncio ao final da sobremesa.
Era uma viagem para terminar o que havia começado, para impedir as ondas de se propagarem cada vez mais longe. Seria uma calmaria em cinco segundos. Mesmo se, contra todas as possibilidades, ela voltasse com ele dentro do carro, tudo estaria esgotado.

Ele sorriu no carro, aumentou o som, arriscou um assovio, abriu o vidro. Em breve tudo estaria completo. A volta seria um tanto mais leve.

21 janeiro 2010

Vida Parada

A tradução para o inglês de "natureza morta" é "still life". Sempre achei esse um termo muito melhor do que o em português, afinal, só porque é parado não precisa estar morto. Vida parada soa feio em português, natureza morta é mais dramático, como muita coisa no nosso idioma. "Still Life" é simples e direto ao ponto.

Passei muito tempo pensando nisso, tive até um fotolog com esse nome mas nunca coloquei nenhuma foto... Então, no último fim de semana pensei nesse termo de novo porque descobri uma coisa legal: câmera no celular. Não que eu não soubesse da existência disso antes, mas descobri que ela supre perfeitamente a minha curiosidade pelo tosco/trash/lindo/cotidiano/surpreendente dessa cidade (e das outras também). Still life. Simples e direto ao ponto. Não é natureza morta. É vida parada, vida da cidade parada pra sempre.

Assim, resolvi que de vez em quando vou colocar aqui uns "still life" que eu captar pelas ruas. Já tinha até algumas coisas guardadas que eu tirei pelo Rio, mas vou começar por São Paulo porque foi lá que eu pensei nisso, enquanto andava pelo tal viaduto Santa Efigênia.


Senhorzinho bacana que vende cotonete japonês e limpador de língua de bambu.

Liberdade, São Paulo.









 

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