15 julho 2012



Nós evitamos os escancaramentos para levar a vida pé ante pé naquela certezinha confortável de que o que é seu virá. Nunca. O que é seu te sequestra, com o pé na porta, pé-de-cabra, balaclava. Não é sutil. Quando você vê está com silver tape até o cabelo, amarrado numa cadeira giratória e tentando lembrar a senha do cofre.

A princípio, você fica pensando que o destino tem aquele senso de humor maroto porque justamente quando você resolve atravessar uma rua que você nunca atravessa, ir a um lugar que você nunca foi, entrar em um banco que você nunca entra, tem ali um sequestrador. Se você tivesse feito tudo como sempre fazia? Se você tivesse feito tudo diferente? Não importa, já está amordaçado, com medo de dizer o quão absurdo é se entregar a um desconhecido. Você não diz porque há nele uma força tão avassaladora, que ocupa tantas ranhuras suas que a coincidência de vocês estarem no mesmo lugar no mesmo momento se transforma numa quase obviedade.

Quando você percebe já entregou seus segredos docemente. A senha para o que há de melhor e pior em você é compartilhada entre suspiros e solavancos. Você se acalma pois não há para onde ir, só há certeza de que se ficar e obedecer será feliz. E ficamos aguardando o BOPE, o Samuel L. Jackson, alguém que negocie nossa saída dali porque nós mesmos não podemos mais.

O amor faz reféns. Desde o início o amor faz reféns, dos mais passivos aos mais rebeldes. Reféns de promessas, de pessoas que achamos que mudarão, das pessoas que nós achamos que vamos virar, de algo que no futuro há de acontecer. A gente se cala e obedece diante da adrenalina de aguardar tudo isso, de ser tudo isso e de existir em tudo isso. Mas, principalmente, somos reféns dos arrepios, das pequenas delicadezas, da pressão de todo dia nos mantermos reais a nós. Sim, o amor faz reféns mas, mais que isso, o amor é uma grandessíssima Síndrome de Estocolmo.
 

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