16 abril 2009

Fertig

"... fechar temporariamente as portas e janelas de nossa consciência; permanecer imperturbado pelo barulho e a luta do nosso submundo de órgãos a cooperar e divergir; um pouco de sossego, um pouco de tabula rasa da consciência, para que novamente haja lugar para o novo, sobretudo para as funções e os funcionários mais nobres, para o reger, prever, predeterminar - eis a utilidade do esquecimento, espécie de guardião da porta, zelador da ordem psíquica, da paz, da etiqueta: com o que logo se vê que não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento. O homem no qual esse aparelho inibidor é danificado e deixa de funcionar pode ser comparado a um dispéptico - de nada consegue dar conta, que nunca se livra de nada, que nunca fica pronto para o novo, para o presente..."
- F. Nietzsche


Ás vezes, não adianta cuspir, pôr para fora. Não adianta destilar veneno, ódios, palavras duras nem lágrimas. Em alguns momentos, para nos resolvermos, há que se pôr para dentro. Há que se engolir orgulhos, a culpa, a dor. Há que deixar passar, para as entranhas absorverem, a decepção e a frustração, a desconfiança e os maus conselhos. Há que deixar dissipar no sangue a distância e o silêncio. Há que se colocar na memória bons momentos e pesar no cérebro o quanto devemos fazer e o quanto fazemos o que nos dizem. Há que calar gritos, há que trocar recalques por oxigênio, encher os pulmões de rachaduras velhas e lembranças poeirentas. Para só então, expirarmos desculpas, exalarmos alegrias, chorarmos idas, gritarmos vindas, parirmos distâncias e suarmos sossegos.
 

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