01 dezembro 2008
Rehab
19 novembro 2008
A primeira vez a gente nunca esquece...
30 outubro 2008
Do diário de Suelen Gueiras
...Ando com nojo dos corretos. Que fique claro, dos corretos, não dos certos. Os primeiros não sabem que erram, não admitem, não vêem. Os outro, os certos, erram. Eu? Eu sou um erro. Quem somos nós se não nossos erros acumulados e as tentativas redentoras de consertá-los? Eu sou um erro e me corrijo a cada momento não para ser perfeita, mas para ser exata e é justamente essa busca que me eleva aos céus. Eu acerto com meus erros porque cometo-os com amor e, assim, diante dessa raça de corretos, me construo tão mais forte. Esses tipos tão limpos, elegantes e admiráveis, aquilo que todos querem ser. Os lustra-móveis da sociedade. Mestres do distanciamento, do olhar de esguelha.
Os corretos se agarram no efêmero, aos gritos, fúrias, xingamentos, os certos dão as mãos à longevidade da lição. Eles não darão o braço a torcer, não serão sutis nem flexíveis muito menos sensatos. Nunca alcançarão os céus e dirão “não acredito em céu” porque nunca viram se não certeza em suas atitudes. Quem erra, vê um mundo debaixo dos pés, um abismo prestes a engoli-lo e então, sabe-se que existe um céu.
Os corretos apontam aquele dedo-inquisição hipócrita. Os certos prenderam tanto os dedos em frestas, gavetas, portas, dobradiças que andam com as mãos nos bolsos. Para os corretos eu quero apontar um dedo na cara bem esticado, rígido, indubitável, incontornável. Para eles eu quero sempre levantar o dedo do meio...
10 setembro 2008
O que há nos caixotes
22 agosto 2008
Krig-Ha Bandolo
“Mesinha nova?” – perguntou como se o movelzinho fosse um intruso nas lembranças que ele tinha do apartamento – “Não sei se gosto...”
“Comprei pra quebrar na sua cabeça.” – ela pensou e depois apagou, porque ele estava lá, depois de oito meses nebulosos que Nanda preferia esquecer.
Sérgio estava de novo sentado no sofá, nada parecia ter mudado. Os choros e chopps anti-surto com as amigas desvaneceram, as sinucas na Lapa para ter mais o que fazer sumiram, flertes inférteis foram esquecidos, arrependeu-se das noites com outros caras. Ele dizia as palavras certas que quebravam aquela parede de mulher bem resolvida e Nanda voltava a acreditar no amor, na vida a dois, no mundo, na bondade das pessoas, no altruísmo, na política, no "para sempre. Tudo isso vinha na garupa do cavalo branco de Sérgio. Apesar de não transparecer, ela estava pronta para que ele a pegasse pela cintura como os mocinhos do faroeste e a levasse de sua casa no meio de uma cidadezinha empoeirada e quente justo quando os índios estavam para atacar.
Entre elogios e toques delicados, embalado em uma fala mansa e terna, ele falou da vida, dos erros que cometera no trabalho, a mudança precipitada para São Paulo. Contou como tinha sido ruim com a Carlinha porque estava em um momento de confusão emocional e de como terminaram aos trancos e barrancos. Nanda não fazia idéia de quem era Carlinha, mas pelo que entendeu, não queria discutir sobre ela.
“Olha, eu não sei se quero saber da Carlinha, Sérgio. Quero saber porque você está aqui.”
“Veja bem, Nanda, eu errei muito esses últimos tempos... Muito mesmo. Estou tentando consertar.” – Pela primeira vez, ela notou que Sérgio tinha um jeito de bicheiro misturado com neo-malandro da Lapa. Devia ser esse “veja bem” que ele sempre usava.
Ela farejou um pedido de desculpas no meio da frase canastrona. Instintivamente, sabia que ele nunca assumiria que cagara o pau e considerou aquilo o mais próximo que Sérgio chegaria de admitir que errou COM ela. Não gostou, mas considerou que ainda era raiva engarrafada.
Do sofá para a cama foi uma discussão complexa sobre o cabelo estar mais curto ou mais longo do que da última vez que se viram. E o sexo... ah, o sexo... burocrático ao ponto de repartição pública. Nanda se pegou olhando as paredes do quarto e pensando que lilás rapsódia seria uma cor ótima para o novo cômodo.
Mas aí, o cavalo deu uma empinada, Sérgio rolou ribanceira abaixo e Nanda lembrou que o cavaleiro destemido era o mesmo com aquela mania de cutucá-la quando queria falar, de fiscalizar seus cigarros, que reclamava do expediente que terminava tarde, que não gostava que ela fosse à sinuca nem às festas que tocavam Madonna mas ao mesmo tempo mulherengo, ciumento ao cubo, com um ar arrogante de garoto-saúde. Era todo igual ao que se lembrava e nada mais do que imaginava para si.
“E agora?” – ele perguntou acariciando suas costas. Ela não quis desviar o olhar para não entregar a dúvida.
“Não sei... tudo meio repentino, né? Nem sei o que você quer direito. Era só me pedir desculpas ou...”
“Nossa reconciliação, ué! Você não entendeu quando eu falei?”
“Quando você falou da Carlinha?! Não, não ficou muito claro, não.”
“Eu quero voltar com você, Nanda. Eu era melhor quando estava com você.”
As palavras de Sérgio pareciam tão longe, tão fora da realidade e aquele girassol na cabeceira tão murchinho. Nanda desviou o olhar para o teto e falou séria:
“Sérgio, eu sou a mesinha da sala.”
“Hã?”
“Se eu te contar tudo o que eu sou agora, você não vai saber se gosta de mim ou não.”
Era verdade. Depois de oito meses, ela era uma espiral, crescendo e girando. Mudara de emprego e agora vivia sem dinheiro, andara em uns cantos muito finos e em umas sinucas chinelonas, conhecera gente nova, ouvia outras músicas, passou a correr na Lagoa, aprendeu duas coisas na cozinha, esqueceu de casar, de como se vive a dois. Nanda não fugia mais dos índios.
“Claro que não, Nanda! Eu tenho certeza que ainda gosto de você, eu não tinha noção do quanto era feliz!”
“Me dá o telefone aqui, Sérgio.”
“Pra quê?”
“Preciso pintar o apartamento.”
O que havia mudado na casa de Nanda era, principalmente, Nanda.
21 julho 2008
Do diário de Suelen Gueiras
...Em alguns dias: Califórnia! O lugar onde o sol é que nem aqui, mas é outra coisa. Melhor assim, o sol daqui não anda dos mais aconchegantes e parece que a cidade me esqueceu, vira o rosto quando eu passo. Não a culpo, não há mesmo como entender as escolhas dos outros que nunca faríamos. Deixo que respire, areje. Faz um sol frio e não lembro de um inverno tão bonito mas não tenho espírito para apreciar. Acordo pensando em dias velhos, durmo querendo coisas frescas e tudo o que há no meio é batalha em mim para acalmar esse meu lado tranqüilo que pôs os dentes de fora. Se ora mando à putaqueopariu é para apenas calar tristeza logo depois...
E rezo:
dê ouvidos aos gritos de raiva,
dê quietude de alma,
dê razão aos corações partidos
dê luz aos olhos cegos de ira
dê harmonia aos que julgam e sensatez aos que calam.
aos que se crêem corretos de postura dê um erro e um juiz tão grave quanto eles.
dê a mim a tranquilidade para uma vida quieta e a paciência para aguardar este fim.
Por todos estes dias..."
25 junho 2008
Mecânica Celeste
Ali, quietos, guardados em memórias, os amantes querem se resguardar do mundo e existir em uma vida doce. Queremos, mais que todos, permanecer. Manter-nos ao alcance dos olhos, insistindo para que as fotografias não sejam arrancadas, os presentes devolvidos. Desejamos ser parte da vida do outro, como a fotografia velha que, colada ao porta-retratos, todos têm cuidado em arrancar. Até aqueles de nós que se viam como amantes seguros de si, sem medo de dores nem quedas, vêem-se arrepiados ao pensarem na possibilidade de serem lavados de enxurrada pelas sensações de uma chuva fria e nova. Então, agarramo-nos à esperança de termos sido especiais suficientes para restarmos de pé.
Permanecer dentro de alguém é o remédio para a dor da perda e a cura para todo o fim. Os mais ingênuos sabem sem perceber, os descrentes só entendem nas últimas latas d’água, que, o que sobra é lembrança e apenas isso nos ancora para os dias seguintes. No fim, queremos todos sobreviver na história, seja ela do mundo ou de outrem. Queremos essa nesga de luz que é saber que estamos vivos e bem, não só em nós, mas em outros olhos que nos vêem invariavelmente sorrindo, felizes, de mãos dadas como se, no mundo, nada pudesse nos apagar.
17 junho 2008
Conversa de Elevador
“Olá.” – eu disse antes de atender o celular e ele respondeu balançando a cabeça. Bonito, esculhambado era um fato, mas alugar Cronenberg lhe dava pontos. Ficou parado enquanto eu lutava para administrar o telefone e tudo o mais que eu carregava. Olhou meu decote em vez de oferecer uma mão. Ainda morava com a mãe, uma pena.
A conversa não demorou, logo que a porta fechou a ligação caiu. A sacola de compra também. Apanhei com rapidez e respondi o “de nada” com simpatia.
Derrubei a sacola de propósito. Era hora de começar uma conversação. Tinha o mesmo sorriso de antes.
“Você mora aqui?” – eu perguntei sabendo qual seria a resposta porque: 1) aquela mulher era colorida demais para o Edifício Rei Salomão e 2) eu não tinha o tipo de sorte de habitar a menos de três estações do metrô de uma menina como aquela. Com certeza, estava visitando a avó. Prédios de Copacabana têm dessas, vovós com netas interessantes.
“Moro.” – definitivamente não era a resposta que eu esperava. Mas, quem está reclamando, certo? O sorriso dela lembrava o da Sandrinha, minha primeira namoradinha.
Sabia! Não lembrou, mas enfim... eu era outra pessoa naquela época... vamos dar uma colher de chá ao rapaz.
“Eu não sabia...” – gaguejei.
“Já tem umas três semanas.”
O elevador chegou e ela abriu a porta.
“Espera! Em que apartamento?”
“No mesmo de sempre, Alexandre!”
Aposto que ele não vai entender nada. Vamos deixar a porta fechar na cara de bobo dele. “Como você sabe o meu nome?” – eu ouvi a voz dele abafada pela porta do elevador.
“Presta Atenção, Alexandre! Você mora no nono!” – eu respondi.
Quem era essa menina, meu Deus? A Sandrinha voltou a minha cabeça, mas ela nunca morou no mesmo prédio que eu!
Não mudou muita coisa. Alguns quilos a mais, mas até aí, eu também. Tocou o doze só pra me ver subir, como antigamente.
Toquei o nove quando a porta fechou por inteiro. O doze era mesmo só para vê-la subir.
11 maio 2008
Ele levanta e sorri. Eu também. Concordamos em tudo, por mais que seja a minha menor parte a comandar toda a conversa. Pequena, porém convincente, minha parte maior é ligeiramente suscetível e, quiçá, covarde. No reflexo dos óculos escuros meus olhos fogem de mim.
Como eu imaginei, ele vira uma silhueta escura na saída. Venta lá fora, cheiro forte de chuva. Penso que é a ultima vez, agarro a bolsa, daria tempo para correr, pará-lo e beijá-lo na chuva. Porém, por mais que funcione nos filmes, não vou fazer isso. Eu me aproximo da porta de saída sem ter mais o que fazer. Há em mim um misto de dever cumprido e grito entalado, a desolação de ter feito algo certo quando preferia ter escorregado como uma mera mortal, o cansaço por querer sempre o equilíbrio.
Piso na rua e chove. A chuva é para mim, sem dúvida, não por causa de qualquer teoria sobre erros e probabilidades, mas porque hoje eu mereço. Fria, sem rumo certo, cheia de vento, batendo as portas e janelas que encontrar. Tudo sobre a minha cabeça de uma vez só, uma verdade sobre a minha personalidade a cada lampejo e rugido. As poucas quadras até minha casa ficarão maiores desse jeito e eu posso imaginar o quanto... e eu nem uso guarda-chuva..."
15 abril 2008
14 abril 2008
Uma página sem cinco frases...
"A propósito, é típica a entrée que reportamos adiante: Você não deve fazer nada, eu faço tudo."
Fellini descreve como age um "clown" branco em seu livro "Fazer um filme" e eu também torci pra chegar logo nessa página.
E, como eu gosto de brincadeiras entre blogs, passo adiante para Bernardo (que já me ensinou essa brincadeira antes, mas sabe como é, livros mudam...) e Daniel, se eles tiverem a curiosidade e o interesse em continuar...
14 março 2008
A Juke Box Life
“O senhor veio me prender pelas minhas apropriações indevidas?” – o guarda apenas piscou sem entender que alguns bons anos da vida de Anna já afogavam em água turva.
“A senhora não pode parar o carro na ponte.”
12 março 2008
Princípio da Incerteza
* O princípio da incerteza diz que é impossível determinar conjuntamente a posição e a velocidade de uma partícula.
06 março 2008
A Leoa e o Domador
20 fevereiro 2008
Não nasci blasé
2 – férias
3 – preguiça
...
... a lista de motivos para não escrever seguia ameaçadora. Cogitei fechar o blog, meses sem linhas novas me preocuparam. Desanimei. Procurei assuntos, encantos... Passaram dia e mês. Relampejou, secaram as poças, ventou no vale, blocos passaram, sambei, bebi, ri com os irmãos, fiz novos amigos, encontrei os antigos, desloquei o ombro. Tudo isso não rendeu mais que um inventário do que eu deixava escapar da minha escrita.
Até lá, faltam textos e abano moscas por aqui.
05 fevereiro 2008
Metalinguagem pra vida...*
Nina!!! E aí, você ainda “tá indo”?
Nina – lost to the light and the loving we need… diz
Tô…
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
sinta-se beijada na testa... cinco vezes
Nina – lost to the light and the loving we need… diz:
obrigada. beijos na testa são sempre felizes
Nina – lost to the light and the loving we need… diz:
você já reparou que eu desconsidero praticamente qualquer vírgula que possa existir numa conversa?
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
desconsidera na hora de falar ou na hora de ler?
Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
de escrever
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
deve ser porque não faz falta
Nina – lost to the light and the loving we need diz:
exatamente. vírgulas atrasam a vida. o negócio ou é reticências ou é ponto-parágrafo...
Julio – Cronenberg no CCBB! Diz:
reticências?
Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
É... gosto da sensação de continuidade... sem contar que no momento estou extremamente reticências... e ponto parágrafo também.
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
o que é ser ponto parágrafo? dar um fim a um parágrafo e começar outro do zero?
Nina – lost to the light and the loving we need diz:
isso
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
mas o que falta pra cortar dois pontos da reticências e transformá-las em ponto parágrafo?
Nina – lost to the ligh and the loving we need… diz:
coragem... tudo uma questão de coragem! e o pior é que cortando dois pontos das reticências elas viram só ponto final e isso é uma coisa muito determinista que não me agrada. eu acho que o próximo parágrafo está escondido num hiato criativo
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
então você não sai das reticências porque não há palavras novas à vista?
Nina – lost to the light and the love we need… diz:
não, não é bem assim. Porque mesmo que não haja palavra nova a vista, tem o parágrafo em si, o distaciamento da margem... tudo isso já é um bom começo. o problema é o medo de virar ponto final e não seguir pro parágrafo
Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
Nina, você tem quase infinitas paginas em branco! em se tratando de gente, sinais de pontuação são tão mutáveis quanto a gente mesmo.
o que fica são os usos criativos que você encontra pros verbos, as mudanças de foco narrativo, as metáforas "boa sacada"...
Julio – Cronenberg no CCBB diz:
estou falando besteira demais?
Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
não, de jeito nenhum. fico pensando se a gente está se entendendo mesmo depois disso tudo ou é só pra continuar a poesia, mas eu acho que não... acho que a gente tá se entendendo sim
Julio - Cronenberg no CCBB! diz:
sim, acho que estamos sim.