“completamente embriagado perdi meu cachorro Jorge,
como vou voltar pra casa se só ele sabe o caminho?” *
A noite pedia bebida, pedia música alta para que não ouvissem seus pensamentos, pedia um descolamento do mundo real. A vida inteira ficara na porta, o ano que passara estava preso entre roletas e seguranças. Vida mesmo era só aquele inconstante de luzes que trazia lembranças às duas amigas. Vida era suor e dança que não seguia o ritmo da música das caixas de som e sim, uns batuques na boca do estômago.
Diziam que eram meninas más porque bebem sem parar e sem motivo. Meninas más bebem assim e bebem também para esquecer. Faz parte da malvadeza assumir isso. As doses se repetiram com dedos firmes e rápidos que emborcavam copos no meio do sal e do limão. Companhia para um desafio. As mãos afrouxaram as coleiras. A noite pedia e elas também.
O cabelo se desfaz, o corpo sua, a roupa cola. As músicas, aos poucos, se tornam propriedades particulares. São estrofes da vida delas cantadas em um momento em que a vida estava suspensa lá do lado de fora, sendo severamente avaliada. Para cada dia havia uma estrofe diferente. As mãos cansaram de segurar as coleiras.
As duas saem, sentam-se no meio-fio, suadas, pernas estiradas, sapatos nas mãos. Nenhuma vergonha nisso. Mãos dadas, dia claro. A vida sentou ao lado. Estava tão claro que foram capazes de perceber que, por mais que afastassem pensamentos e tristezas, suas mentes não deixariam que se enganassem. Elas perdem para si mesmas, percebendo o inevitável no raiar do dia. As noites nunca serão sempre assim e os dias seguintes nunca serão dormentes de ressaca.
Riram de um forró besta no rádio de um podrão. “A burrinha da felicidade nunca se atrasa... Inexoravelmente.” – dizia Santana. Olharam as mãos vazias, àquela altura Jorge ia longe e ligeiro, já quase pelas bandas da Monsenhor Tabosa.
como vou voltar pra casa se só ele sabe o caminho?” *
A noite pedia bebida, pedia música alta para que não ouvissem seus pensamentos, pedia um descolamento do mundo real. A vida inteira ficara na porta, o ano que passara estava preso entre roletas e seguranças. Vida mesmo era só aquele inconstante de luzes que trazia lembranças às duas amigas. Vida era suor e dança que não seguia o ritmo da música das caixas de som e sim, uns batuques na boca do estômago.
Diziam que eram meninas más porque bebem sem parar e sem motivo. Meninas más bebem assim e bebem também para esquecer. Faz parte da malvadeza assumir isso. As doses se repetiram com dedos firmes e rápidos que emborcavam copos no meio do sal e do limão. Companhia para um desafio. As mãos afrouxaram as coleiras. A noite pedia e elas também.
O cabelo se desfaz, o corpo sua, a roupa cola. As músicas, aos poucos, se tornam propriedades particulares. São estrofes da vida delas cantadas em um momento em que a vida estava suspensa lá do lado de fora, sendo severamente avaliada. Para cada dia havia uma estrofe diferente. As mãos cansaram de segurar as coleiras.
As duas saem, sentam-se no meio-fio, suadas, pernas estiradas, sapatos nas mãos. Nenhuma vergonha nisso. Mãos dadas, dia claro. A vida sentou ao lado. Estava tão claro que foram capazes de perceber que, por mais que afastassem pensamentos e tristezas, suas mentes não deixariam que se enganassem. Elas perdem para si mesmas, percebendo o inevitável no raiar do dia. As noites nunca serão sempre assim e os dias seguintes nunca serão dormentes de ressaca.
Riram de um forró besta no rádio de um podrão. “A burrinha da felicidade nunca se atrasa... Inexoravelmente.” – dizia Santana. Olharam as mãos vazias, àquela altura Jorge ia longe e ligeiro, já quase pelas bandas da Monsenhor Tabosa.
*música "Procura-se Jorge" da banda Coçadores del Chaco