27 fevereiro 2010

Se

se um dia você pisasse nas minhas areias, andasse nesses ônibus, se um dia você ficasse debaixo da cúpula do CCBB, se visse o Cristo do início da São Clemente, se um dia você saísse da praia e fosse jantar comigo, se andasse pelo centro e tropeçasse nas pedras portuguesas, se espirrasse no gabinete português de leitura, se visse seu rosto nos vitrais da casa Franklin, se sentisse o vento sob o pilotis do MAM, se visse três filmes seguidos no Odeon, se beijasse minha espinha dorsal como quem vai do chão ao alto do cara-de-cão. se você um dia sentisse meu cheiro de verdade, tocasse nos meus cabelos. se quisesse morar nas casas de vila, se corresse para pegar o bonde, se saltasse do bonde andando. se você pulasse o carnaval daqui, suasse no bloco daqui, sorrisse nas ruas daqui. se achasse sua hora no relógio da central, se perdesse a paciência no trânsito do Rebouças, se cruzasse a ponte vendo o seu avião partir sem você nele, tenha certeza, não existiria nem mesmo uma sombra de poste na qual você gostaria de se esconder sem me dar a mão.


17 fevereiro 2010

Quanto riso ó II

Quarta-feira de cinzas. A cidade e a minha casa são puro confete. Esse ano foi mais ou menos igual ao ano passado. Eu disse mais ou menos. Esse ano teve banheiro químico (o que me fez pensar que o Eduardo Paes nunca foi a um bloco na vida, porque 10 banheiros pra um evento como o Empolga às 9, só quem nunca esteve lá...), esse ano fomos obrigados a tomar Antartica em TODAS as esquinas e ter que aturar aquelas plaquinhas, bola de encher e chapéu de malandro azuis.

Mas enfim, o que importa são as fantasias e não adianta analisar a semiologia de todas elas de novo, mas foi possível identificar novas tendências do carnaval "choque-de-ordem". Desenvolvo a tese:

Fantasia de Brechó: nunca imaginei que diria isso, mas o empilhamento de milhares de peças estranhas e coloridas junto com aquele cheirinho de naftalina fez o meu carnaval. Escalafabéticas e sensacionais!

Fantasias "Ah, minha infância querida": mistura da clássica "fantasia de criança", porém, repaginada para um visual "fantasia de menina". O que mais teve esse ano foi Branca de Neve, o que, na minha opinião seria muito mais interessante se fosse uma "fantasia coletiva" com os anões e a bruxa má.

Fantasias coletivas: Depois do grupo de Penélopes Charmosas e bailarinas barbadas os homens deram um show. As meninas se limitaram às meias listradas e bóias de pato escrito "Patotinhas!".

Fantasia que não é fantasia: se ano passado era o chapéu de malandro (que continua não sendo fantasia) esse ano foi a meia colorida ou os pares trocados! Meia é meia, trocada, com listra ou bolinhas ou não! A menos que a sua fantasia seja de Punky, a Levada da Breca, seja um pouco mais inventivo ou compre um acessório na banquinha da esquina!

Fantasia de tiazona: como já foi dito, elas não têm fantasia, são sempre redondas, suadas e animadas. Esse ano, porém, elas não tinham quase roupa também! Tops e roupa de ginástica marcaram presença.

Fantasia da moda: acho que um clima nostálgico do velho carnaval do Rio tomou a nova geração e a fantasia da moda foi o palhacinho de macacão ou vestidinho de bola coloridas. Um amor, mas deu.



15 fevereiro 2010

Vida Parada

Apesar do carnaval ainda não ter seu fim, o Vida Parada vai ter uma edição de carnaval. Sim, porque a época mais enlouquecida do ano no Rio precisa ser brindada com doses rápidas de esquisitice.


Gordinha comandando carro-pipa do Barbas, em Botafogo.
Notem o item verde no canto da imagem.



AveMariatrêisveiz!Avemariatrêisveiz!Avemariatrêisveiz!
Pela Rio Branco.
Garoto-propaganda da Nestlé.



A melhor batatinha-frita do Boi-tátá, na Praça XV.

08 fevereiro 2010

Cartinha de Natal

Querido Papai Noel, eu sei muito bem que não fui a melhor das menininhas ano passado, mas já passei dessa fase, certo?

sei também (e muito bem) que não pedi nada de Natal no ano que se passou (2009), o que me deixa um crédito. Portanto, como ainda estamos no início do ano e acredito, pela metereologia e pelo Jornal Nacional, que deve estar um frio filhodaputa aí onde o senhor fez questão de morar (sem contar o monte de elfos e gnomos), sugiro que dê um pulinho no Rio de Janeiro, aproveite uma praia (sem contar as mulatas) e deixe meu presentinho.


Colei aqui embaixo uma foto para o senhor não se confundir:



eu quero a fantasia menos peluda e com coroa, por favor. Se der pra chegar antes da quarta-feira de cinzas, MELHOR AINDA!

Obrigada,

Beijos
Mari.

P.S. como o senhor bem sabe, não tenho chaminé, por isso, vou deixar avisado na portaria que o senhor vai subir.

03 fevereiro 2010

Reativo


Para R.,

Dez horas da manhã. A noite anterior acabara às 06:30 ainda com cheiro de cigarro e o eco da música alta. O despertador toca quase dentro da cabeça dele. Levanta-se com a boca seca, a língua dormente e um gosto amargo na garganta. Faz um café que desce torto, bebe três copos d'água. Um cigarro na varanda vendo o domingo ressaquento se movimentar sob seus pés.


Depois de vestido, pega as chaves do carro e por 3 horas dirige até seu destino sem pensar muito em consequências. Ele nunca foi de pensar no que poderia vir depois. Simplesmente reage a uma ação há muito feita e ainda sem fim. Uma ação que lateja como a dor de cabeça que sente naquela manhã. Infinitamente mais doce, porém.


Já havia imaginado tudo: a convidaria para um almoço, ouviria suas últimas novidades, falaria pouco da sua vida porque não havia muito o que dizer. Na verdade, ela era o que ele poderia contar de novo, mas não faria sentido falar dela para ela própria. Observaria atentamente enquanto terminava a sobremesa e então, ao final de tudo, a chamaria para voltar com ele. Pelo silêncio dela, saberia que a viagem seria solitária.


Mesmo assim, fez tudo o que fizera naquela manhã e seguia no carro ouvindo uma música alta para não cochilar. No fundo, não era mais ela, e sim, ele, o motivo de tudo. Por mais que repetisse o nome, viajava por si. Porque era necessário cair no buraco do coelho branco, na vida imaginada, numa desajeitada busca por tranquilidade. Era preciso esgotar-se nas próprias opções, nas perguntas e nas respostas. Por mais que tudo culminasse no silêncio ao final da sobremesa.
Era uma viagem para terminar o que havia começado, para impedir as ondas de se propagarem cada vez mais longe. Seria uma calmaria em cinco segundos. Mesmo se, contra todas as possibilidades, ela voltasse com ele dentro do carro, tudo estaria esgotado.

Ele sorriu no carro, aumentou o som, arriscou um assovio, abriu o vidro. Em breve tudo estaria completo. A volta seria um tanto mais leve.

 

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