O chefe do parque de diversões deu uma risadinha nervosa quando Caligari puxou a fita de cetim que inaugurava a sua mais nova atração. Depois que o sonâmbulo não dera certo o velho partira pelo mundo a procura de um novo sucesso para o parque itinerante de Frau Heinz. Tentara diversas coisas: pigmeus, gigantes, poodles amestrados, um rapaz chamado Kaspar Hauser e até mesmo um velho com umas asas enormes achado em uma ilha do Caribe. Tudo dera errado, até que Caligari lembrou-se de uma atração de sua infância e correu os livros do mundo procurando um manual de como montá-la.
Depois de três estações ele retornou, marcou uma reunião com Frau Heinz e obteve permissão para montar, na parte mais distante da feira itinerante, sua mais nova atração. Em três dias a enorme tenda azul com franjas roxas foi erguida e na frente de sua porta principal estava amarrada com um laço extremamente metódico, a fita de cetim vermelho que Caligari puxava agora tendo, a sua volta, todo o resto da feira, incluindo a jovem filha de Frau Heinz que fazia um maravilhoso número no trapézio e nas fitas verticais nas manhãs de domingo.
O laço desmanchou-se e caiu no chão. Não houve fogos ou banda. A filha de Frau Heinz segurou a respiração, a roupa de lantejoulas brilhando. Caligari abanou a cartola numa reverência que quase fez seu queixo tocar o chão e ao se levantar pediu um voluntário. A filha do chefe levantou a mão prontamente, sacudindo-a freneticamente. Não que outra pessoa quisesse ir, muito pelo contrário. Ninguém teve coragem de entrar na tenda azul, a não ser a menina das lantejoulas.
Caligari tomou a menina pelas mãos muito respeitosamente enquanto seu pai sentia palpitações dentro do colete apertado. “Tire as sapatilhas, criança.” – pediu Caligari – “Pés apertados afetam diretamente o pensamento lúcido.” – e a menina obedeceu. Depois amarrou-lhe uma venda sobre os olhos e levou-a para dentro da tenda.
“Vou tirar sua venda.” – Caligari avisou e quando a trapezista abriu os olhos só havia o escuro e um corredor que fazia um caminho muito maior que a própria tenda, apesar de não subir, descer ou fazer curvas. Era um enorme corredor que não era mais do que a própria trapezista que andava por ele.
No local onde o corredor acabava havia um espelho e ao redor dele, dispostos em círculos concêntricos de forma que nenhum atrapalhasse o outro, milhares de outros espelhos com milhares de trapezistas, de todas as formas, sob luzes inexplicáveis. Reflexos nunca iguais e nunca diferentes em espelhos ainda mais variados e bem no centro, ela, a dona de todos eles.
“Aqui estão os seus reflexos, criança.” – o velho disse no seu ouvido, mas nenhum espelho mostrou o reflexo de Caligari, apenas milhares de trapezistas em roupas de lantejoulas que variavam de cor, corpo, cabelos, atitudes – “Aqui eles são guardados secretamente, convivem, conversam, se animam e, na maior parte do tempo debatem. Tudo aqui é você, do corpo do centro aos reflexos, do veludo negro das paredes ao tapete do chão, é o que está nos vidros e diante deles. Esta é Casa de Espelhos, criança.”
“Pode olhar agora.” – Caligari sussurrou no ouvido da menina e não havia mais espelhos. A tenda não tinha mais que dez metros de diâmetro e uma luz azulada. Um ponto brilhava no chão. A trapezista abaixou-se para ver o que era.
“Não, criança!” – o velho gritou – “É isso que faz toda a mágica!”
A filha do chefe do parque largou o caco de espelho quebrado no chão. Não sem antes piscar um olho e fazer um pequeno aceno ao reflexo que a encarava.
Depois de três estações ele retornou, marcou uma reunião com Frau Heinz e obteve permissão para montar, na parte mais distante da feira itinerante, sua mais nova atração. Em três dias a enorme tenda azul com franjas roxas foi erguida e na frente de sua porta principal estava amarrada com um laço extremamente metódico, a fita de cetim vermelho que Caligari puxava agora tendo, a sua volta, todo o resto da feira, incluindo a jovem filha de Frau Heinz que fazia um maravilhoso número no trapézio e nas fitas verticais nas manhãs de domingo.
O laço desmanchou-se e caiu no chão. Não houve fogos ou banda. A filha de Frau Heinz segurou a respiração, a roupa de lantejoulas brilhando. Caligari abanou a cartola numa reverência que quase fez seu queixo tocar o chão e ao se levantar pediu um voluntário. A filha do chefe levantou a mão prontamente, sacudindo-a freneticamente. Não que outra pessoa quisesse ir, muito pelo contrário. Ninguém teve coragem de entrar na tenda azul, a não ser a menina das lantejoulas.
Caligari tomou a menina pelas mãos muito respeitosamente enquanto seu pai sentia palpitações dentro do colete apertado. “Tire as sapatilhas, criança.” – pediu Caligari – “Pés apertados afetam diretamente o pensamento lúcido.” – e a menina obedeceu. Depois amarrou-lhe uma venda sobre os olhos e levou-a para dentro da tenda.
“Vou tirar sua venda.” – Caligari avisou e quando a trapezista abriu os olhos só havia o escuro e um corredor que fazia um caminho muito maior que a própria tenda, apesar de não subir, descer ou fazer curvas. Era um enorme corredor que não era mais do que a própria trapezista que andava por ele.
No local onde o corredor acabava havia um espelho e ao redor dele, dispostos em círculos concêntricos de forma que nenhum atrapalhasse o outro, milhares de outros espelhos com milhares de trapezistas, de todas as formas, sob luzes inexplicáveis. Reflexos nunca iguais e nunca diferentes em espelhos ainda mais variados e bem no centro, ela, a dona de todos eles.
“Aqui estão os seus reflexos, criança.” – o velho disse no seu ouvido, mas nenhum espelho mostrou o reflexo de Caligari, apenas milhares de trapezistas em roupas de lantejoulas que variavam de cor, corpo, cabelos, atitudes – “Aqui eles são guardados secretamente, convivem, conversam, se animam e, na maior parte do tempo debatem. Tudo aqui é você, do corpo do centro aos reflexos, do veludo negro das paredes ao tapete do chão, é o que está nos vidros e diante deles. Esta é Casa de Espelhos, criança.”
“Pode olhar agora.” – Caligari sussurrou no ouvido da menina e não havia mais espelhos. A tenda não tinha mais que dez metros de diâmetro e uma luz azulada. Um ponto brilhava no chão. A trapezista abaixou-se para ver o que era.
“Não, criança!” – o velho gritou – “É isso que faz toda a mágica!”
A filha do chefe do parque largou o caco de espelho quebrado no chão. Não sem antes piscar um olho e fazer um pequeno aceno ao reflexo que a encarava.
5 comentários:
Mari, sinto que vou adorar seu blog. Tanto amor à vida é contagiante.
Muitos beijos,
Bernardo
Fiquei tentando imaginar como Caligari, Kaspar Hauser e o Velho de asas enormes se encontrariam na mesma feira de diversões. Seria memorável.
Amiga, você manda muito bem com as imagens. Cada uma das trapezistas me olha: umas com ternura, outras com perguntas, outras com a complacência de saber que sou só uma menina.
Realmente há mágica nas coisas, basta um olhar atento.
beijo!
Amiga, um dia eu alcanço vocês! Ai, ai, ai...
Adorei. Aguardo os próximos...
Ah que legal!
Adorei descobrir seu blog!
Lindo conto, muito bom mesmo!
Visitarei com frequencia, parceira de truco, por falar nisso temos que combinar mais jogos!
Bjs
Muito bem estruturado... gostei muito...
final super!
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