achado entre as páginas 134 e 135 do diário.
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R querido,
Pensei demais em sua carta, porque, como você mesmo sabe - e reclama - , eu penso demais. Não sei, no entanto, se, mesmo depois de todo esse tempo, lhe dou uma resposta que baste. Você me perguntou R, se eu poderia dizer a você o que eram as músicas de amor para os que nunca amaram e eu te digo, apesar de não querer jogar nenhum balde de água fria nas suas expectativas, são todas besteiras. Cogitei várias respostas e a que ficou sem refutações foi: besteiras. Nenhuma delas diz do tempo que pára ou do sangue que escorre. Até para mim, R, que já amei, a resposta permanece. Ao chegar a essa conclusão, percebi que eu mesma andava muito mais descrente e desconfiada das coisas do amor do que poderia imaginar.
Amor é uma reviração de entranhas, requer sangue grosso e quente, pede o seu estômago. Amor é cru e, ás vezes, feio. As músicas não falam dessas coisas. É lógico que eu não gostaria de dizer tudo isso para alguém que procura tanto, mas, você sabe que “eu gosto é do estrago...”
É verdade R, que eu não sou a melhor pessoa para lhe dizer tudo isso, eu ainda não passei da primeira fase do jogo. Talvez, para você ele chegue diferente de como chegou para mim. Em todas as maneiras ele te obriga a ver-se e saber-se demais, a lidar com os seus demônios e com os alheios. O outro vai pedir, julgar, desconfiar, vai trazer uma paz de espírito que você nunca sentiu, uma sensação de pertencimento. Você permanece ali, num jogo esquisito de pernas bambas. Nada consome e enriquece mais.
R, não procure nem se engane. Amar pela primeira vez é saber até onde você pode ser melhor do que você acha que é. Pela segunda vez é simplesmente saber que acaba. Primeiro amor nunca acaba, vira presente do tempo e fica guardado sem perder o gosto doce. Segundo amor... segundo amor, ás vezes, só existe para te ensinar que termina.
Acredito que Carol já tenha lhe falado tudo a respeito e duvido que ela acredite em músicas de amor.
Um beijo de longe.
S.
Pensei demais em sua carta, porque, como você mesmo sabe - e reclama - , eu penso demais. Não sei, no entanto, se, mesmo depois de todo esse tempo, lhe dou uma resposta que baste. Você me perguntou R, se eu poderia dizer a você o que eram as músicas de amor para os que nunca amaram e eu te digo, apesar de não querer jogar nenhum balde de água fria nas suas expectativas, são todas besteiras. Cogitei várias respostas e a que ficou sem refutações foi: besteiras. Nenhuma delas diz do tempo que pára ou do sangue que escorre. Até para mim, R, que já amei, a resposta permanece. Ao chegar a essa conclusão, percebi que eu mesma andava muito mais descrente e desconfiada das coisas do amor do que poderia imaginar.
Amor é uma reviração de entranhas, requer sangue grosso e quente, pede o seu estômago. Amor é cru e, ás vezes, feio. As músicas não falam dessas coisas. É lógico que eu não gostaria de dizer tudo isso para alguém que procura tanto, mas, você sabe que “eu gosto é do estrago...”
É verdade R, que eu não sou a melhor pessoa para lhe dizer tudo isso, eu ainda não passei da primeira fase do jogo. Talvez, para você ele chegue diferente de como chegou para mim. Em todas as maneiras ele te obriga a ver-se e saber-se demais, a lidar com os seus demônios e com os alheios. O outro vai pedir, julgar, desconfiar, vai trazer uma paz de espírito que você nunca sentiu, uma sensação de pertencimento. Você permanece ali, num jogo esquisito de pernas bambas. Nada consome e enriquece mais.
R, não procure nem se engane. Amar pela primeira vez é saber até onde você pode ser melhor do que você acha que é. Pela segunda vez é simplesmente saber que acaba. Primeiro amor nunca acaba, vira presente do tempo e fica guardado sem perder o gosto doce. Segundo amor... segundo amor, ás vezes, só existe para te ensinar que termina.
Acredito que Carol já tenha lhe falado tudo a respeito e duvido que ela acredite em músicas de amor.
Um beijo de longe.
S.
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Para moetzinho...
4 comentários:
:D :-) :D
Q maravilha eihn?? Concordo 100% q o primeiro amor nao acaba, fica como presente do tempo. O segundo?... Se vier eh para ensinar q tudo termina. Lindo.... muito bonito mesmo.
Meus parabens de longe!
bjs
S,
penso em Zeca Baleiro - "canções de amor se parecem porque não existe outro amor" - e realmente não é por aí.
canções deixam de lado fúria, angústia e muito do sublime que é a descoberta de si e do outro quando se ama.
mas o caso é: ainda que nos arrisquemos, aprendamos e façamos qualquer arte a respeito - vislumbraremos só alguns aspectos do amor.
R. descobrirá para além das canções e quando vier o doce desespero, o revirar de entranhas, também saberá com quem contar.
beijos,
Carol
Eu gosto é do estrago!
Mari,
desde entrei na trilha de Clarice "escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém, memos que seja a minha" - tenho pensado que a escritura é um revirar de entranhas.
agora vem você com essa imagem sobre o amor, e me veio a pergunta: será que o amor o escrever não se aproximam também por serem incômodos, mas compensadores??
(esse papo rende bem com cerveja!)
beijo
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