Sorte da menina que faz do lençol seu castelo. Esta capacidade despercebida de juntar almofadas, um teto e construir um mundo só seu, povoado apenas com aqueles autorizados pelo seu - ainda pequeno - coração caprichoso. A confiança de que, naquele ínfimo e frágil mundo, não há resto nem choro e há de ser tudo seu. A paz entre os travesseiros diante de todos os horizontes possíveis: a segurança que falta, a confiança que falha, o medo atravessado na espinha, o amor que não sacia.
Mais sorte ainda das meninas que o fazem sob qualquer idade, que percebem que o refúgio é necessário, que a fuga pode ser recompensadora e é inútil bater-se contra as pedras. Então, estendem os lençóis, amontoam as almofadas e lá esperam a mesma paz de espírito de crianças. Sorte dessas meninas que ainda deixam entrar nos seus castelos de lençol os que encantam os corações - agora já remendados - e reconstroem suas cabanas a cada sopro de realidade que vem arrancar uns pedaços de alma e, ás vezes, os dentes.
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