Sorte da menina que faz do lençol seu castelo. Esta capacidade despercebida de juntar almofadas, um teto e construir um mundo só seu, povoado apenas com aqueles autorizados pelo seu - ainda pequeno - coração caprichoso. A confiança de que, naquele ínfimo e frágil mundo, não há resto nem choro e há de ser tudo seu. A paz entre os travesseiros diante de todos os horizontes possíveis: a segurança que falta, a confiança que falha, o medo atravessado na espinha, o amor que não sacia.
Mais sorte ainda das meninas que o fazem sob qualquer idade, que percebem que o refúgio é necessário, que a fuga pode ser recompensadora e é inútil bater-se contra as pedras. Então, estendem os lençóis, amontoam as almofadas e lá esperam a mesma paz de espírito de crianças. Sorte dessas meninas que ainda deixam entrar nos seus castelos de lençol os que encantam os corações - agora já remendados - e reconstroem suas cabanas a cada sopro de realidade que vem arrancar uns pedaços de alma e, ás vezes, os dentes.
25 agosto 2014
04 agosto 2014
Quem me conhece sabe dos meus três outros corpos físicos que caminham pelo mundo me espelhando. Sou eu e não sou eu. É muito de mim e nem eles, os outros corpos, percebem o quanto. Não percebem que quando eu rio, é com minhas quatro bocas. A minha boca e as bocas delas.
São meus quatro pares de olhos que choram. Meus quatro corações que doem e batem. Quando eu suspiro, suspiro por quatro. Quase ventania se triste, quase vendaval se prazer. Quando conto nos dedos os que me completam, conto em quarenta dedos que apenas quatro eu reflito. Meu corpo pequeno tem quatro almas e quatro espíritos. São quatro os cavaleiros do Apocalipse e nós somos as bolas de gude sob os cascos dos cavalos. Nada de cabalístico, apenas uma convergência. Tenho três apoios e, assim, nunca bambeio. E se assim o faço, tenho seis braço pra me catar. É mais que uma rede de proteção, é quase uma cama onde a gente dorme tranquilo.
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