20 fevereiro 2008

Não nasci blasé

1 – calor
2 – férias
3 – preguiça
...
... a lista de motivos para não escrever seguia ameaçadora. Cogitei fechar o blog, meses sem linhas novas me preocuparam. Desanimei. Procurei assuntos, encantos... Passaram dia e mês. Relampejou, secaram as poças, ventou no vale, blocos passaram, sambei, bebi, ri com os irmãos, fiz novos amigos, encontrei os antigos, desloquei o ombro. Tudo isso não rendeu mais que um inventário do que eu deixava escapar da minha escrita.

Estava claro que, de repente, faltavam coisas em cantos antes completos. Vi-me vazia. Pior, alheia ao que pudesse ser chamado mundo, fosse interior ou exterior. Tudo resultado de uma mal-fadada indiferença para afastar velhas mágoas (nunca fui boa na prática do desinteresse). Escondi-me das dores e das saudades, dos arrependimentos e arrepios em troca de dias mais pacíficos, uma paz de espírito temporária e artificial que levou minhas letras embora. Quis não me importar e assim, quem sabe, não doer. Não doeu, também não sorriu. Invejei quem dá de ombros para vida e tentei ser blasé, mas não tive sucesso algum.

Calei por meses até sobrar tanto espaço e silêncio dentro de mim, que implorei uma pequena frustração ou passatempo para que as rodas voltassem a girar. Achava que sentia falta de vícios secretos quando, na verdade, eram saudades apenas de mim. Nesses dias eu sou uma outra que desagrada aos próprios nervos. Parada, submissa, assustada, procrastinadora e sem inspiração. Não duvido que ainda cale dois ou três meses até essa dormência passar.

Até lá, faltam textos e abano moscas por aqui.

05 fevereiro 2008

Metalinguagem pra vida...*

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
Nina!!! E aí, você ainda “tá indo”?

Nina – lost to the light and the loving we need… diz
Tô…

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
sinta-se beijada na testa... cinco vezes

Nina – lost to the light and the loving we need… diz:
obrigada. beijos na testa são sempre felizes


...

Nina – lost to the light and the loving we need… diz:
você já reparou que eu desconsidero praticamente qualquer vírgula que possa existir numa conversa?

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
desconsidera na hora de falar ou na hora de ler?

Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
de escrever

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
deve ser porque não faz falta

Nina – lost to the light and the loving we need diz:
exatamente. vírgulas atrasam a vida. o negócio ou é reticências ou é ponto-parágrafo...

Julio – Cronenberg no CCBB! Diz:
reticências?

Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
É... gosto da sensação de continuidade... sem contar que no momento estou extremamente reticências... e ponto parágrafo também.

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
o que é ser ponto parágrafo? dar um fim a um parágrafo e começar outro do zero?

Nina – lost to the light and the loving we need diz:
isso

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
mas o que falta pra cortar dois pontos da reticências e transformá-las em ponto parágrafo?

Nina – lost to the ligh and the loving we need… diz:
coragem... tudo uma questão de coragem! e o pior é que cortando dois pontos das reticências elas viram só ponto final e isso é uma coisa muito determinista que não me agrada. eu acho que o próximo parágrafo está escondido num hiato criativo

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
então você não sai das reticências porque não há palavras novas à vista?

Nina – lost to the light and the love we need… diz:
não, não é bem assim. Porque mesmo que não haja palavra nova a vista, tem o parágrafo em si, o distaciamento da margem... tudo isso já é um bom começo. o problema é o medo de virar ponto final e não seguir pro parágrafo

Julio – Cronenberg no CCBB! diz:
Nina, você tem quase infinitas paginas em branco! em se tratando de gente, sinais de pontuação são tão mutáveis quanto a gente mesmo.
o que fica são os usos criativos que você encontra pros verbos, as mudanças de foco narrativo, as metáforas "boa sacada"...


...

Julio – Cronenberg no CCBB diz:
estou falando besteira demais?

Nina – lost to the light and the loving we need... diz:
não, de jeito nenhum. fico pensando se a gente está se entendendo mesmo depois disso tudo ou é só pra continuar a poesia, mas eu acho que não... acho que a gente tá se entendendo sim

Julio - Cronenberg no CCBB! diz:
sim, acho que estamos sim.

*uma conversa quase inteiramente real...
 

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