25 março 2007

See you on the dark side of the moon...




"... for long you live and high you fly, but only if you ride the tide..."



Respire. A música dizia, respire. Ela deixou o corpo balançar num movimento serpenteante que não combinava com a música. Seria a música ou a serpente que pareciam vir com ela desde a infância?


Fechou os olhos ao som do rock que embalara sonhos adolescentes, que trazia lembranças da época em que chegava em casa e seu pai estava largado no escuro ao som altíssimo de relógios despertando loucamente. Nunca houve mistério tão grande quanto aquele que ela sentia nos segundos entre fechar a porta e acender as luzes. O pai abria os olhos sonolentos, desligava a música e lhe dava um beijo. As notas ouvidas do elevador pareciam nunca ter existido. Ela não entendia, não havia vestígio nenhum de toda aquela atmosfera pesada de segundos antes.


Respire. E, como se nunca mais existissem dívidas ou amores incompletos, como se ideologias e retrocessos não precisassem de sentido, como se ter ou não um emprego não importasse mais que saber ou não a letra da música, como se suar fosse a prova de estar vivo, a vida desprendeu-se dela e a envolveu. Serpenteou pelo seu corpo esguio e beijou-lhe o pescoço dizendo: “you are young and life is long and there´s time to kill today”.


Quem soubesse que se livrasse das preocupações, quem tivesse desapego suficiente por meros seis minutos que provasse de uma liberdade guardada dentro de si, de mergulhar num grande buraco bem no centro do estômago e só sair de lá e recolher a vida quando fosse a hora de bater as palmas.


Desfez-se, então, o mistério da menina pequena que via o pai perdido de si mesmo e não entendia. Abriu os olhos, alguém acendia as luzes. Hora de recolher os cacos, os relógios calavam.

04 março 2007

Do Diário de Suelen Gueiras


JANEIRO
..........ANTES EU FOSSE SHIRLEY VALENTINE!!!!!!!!!

“...Esquecer, ás vezes, é virtude. Uma pena que não ando muito virtuosa ultimamente...”

“...Ando querendo mesmo chutar esse cachorro moribundo que é o mundo, me encher de raiva e deixar essa de mocinha lutadora pra próxima da fila. Ser uma filha da puta e errar bem feio, cagar o pau. E não vou me incomodar que todos me apontem na rua e cochichem as minhas sacanagens. Pelo menos eu me livrei disso tudo, de uma vez por todas! Se o certo não me traz nem satisfação, completude ou alívio, vejo redenção até na filhadaputice..."

"...O que me importa é tão pequeno aos olhos do outro que, em breve, também não vai me importar mais. Essa efemeridade me incomoda..."

"...Mas eu insisto nesse erro de fazer as coisas certas, de correr atrás de um equilíbrio que não me parece existir. Seria essa coisa de astros? Eu insisto em fritar o ovo aguardando um elogio..."
 

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