09 setembro 2006

Nas prateleiras

Esse texto começa com uma metáfora, uma imagem. Imaginem que nossa memória é uma prateleira, ou melhor, uma infinidade delas, arquitetonicamente bem iluminadas e de extremo bom gosto. Imagem clichê, bastante cinematográfica, incrivelmente quinta série. Às vezes não gosto dela pela simplicidade, mas é, para mim, uma imagem quase perfeita da minha memória. Não exatamente da minha memória inteira porque as memórias de coisas muito remotas, muito chatas ou simplesmente dos recados que eu tenho que dar saem, em algum momento das prateleiras bem arrumadas e vão para o quartinho da bagunça. Nas prateleiras ficam certas... coisas. Um conjunto de coisas pra ser exata, entre imagens, sentimentos, retalhos e saudades. E pessoas.

Sem percebermos, nessas paralelas nas paredes da gente, guardamos pessoas e tudo aquilo que gira ao redor delas. Aquelas que nos fazem sorrir, não importa o quão ruim foi o tempo que passamos ao lado delas. São aquelas que, sem querer, fizeram com que alterássemos nossos pensamentos, nossos olhos e ouvidos. Mudaram um pouco o mundo, nos fizeram andar mais, ler mais, querer mais. Correr atrás de um livro ou de um filme. Rir ou chorar muito mais.

As pessoas das prateleiras são doces e extremamente amargas pela ausência, distância ou silêncio porque uma vez na prateleira é quase impossível sair. É um lugar de puro vislumbre de um tempo que se foi e guarda-se apenas a essência como se guarda o primeiro dente ou a primeira rosa. As prateleiras guardam os amores perdidos, vencidos, impossíveis, sentidos, terminados, inacabados...

Os homens nas prateleiras são aqueles que, se nossa vida fosse um filme, este terminaria não muito feliz e, apesar de tudo, apareceria um crédito em letras neoclássicas dizendo “10 anos depois” e nós dobraríamos uma esquina e encontraríamos justamente com um deles e seríamos felizes. Mas vida não é filme - eu que o diga - ou seria uma desempregada ad eternum. Vida é assim mesmo, triste várias vezes e entre as tristezas, alegrias imensas. Os homens nas prateleiras raramente dobram as nossas esquinas mais de uma vez.

Lá ficam as lembranças de um momento que em nos sentimos capazes de carregar o mundo nas costas sem ajuda nenhuma, apesar da ajuda estar logo ao lado. Ali fica o tempo que gostamos de lembrar e apreciamos como vitórias mesmo, troféus. São os sorrisos de qualquer coisa a mais que nos ocorre.

A beleza das prateleiras é essa capacidade que todos nós temos de gostar ou amar tanto que o sofrer da perda, da impossibilidade ou de qualquer outro motivo fica simplesmente como conseqüência da vida e não como punição. Deixa de ser amargo como era no início e passa a fazer parte da sua memória sem dores.

É meio como um arrepio que te obriga a sacudir o corpo todo pra passar. As pessoas nas prateleiras são assim, arrepios na gente, obrigando a vida toda a se mover.

5 comentários:

Stephanie disse...

Amiga,
a sua metáfora funciona, mas confesso que minha memória também não tem muito a ver com essa imagem.

Seu texto me emocionou. Evocou vários pedacinhos de momentos, de sensações, de diálogos.

Há pessoas na prateleira, que se talvez reencontramos daqui há 10 anos seremos felizes mesmo sem 'happy ending e fade out'.

Seremos felizes por termos sido melhores depois que elas passaram por nossas vidas. Ou por vermos que elas são mesmo especiais, verdadeiros divisores de eras, e não uma ilusão apaixonada.

Mas eu tenho a sensação de que antes dessas pessoas irem para a prateleira, onde podemos vê-las claramente e contemplá-las como algo bom, e que foi, é preciso deixá-las passar um tempo no quarto de bagunça.

beijos!

Bernardo Tonasse disse...

Ah, as pessoas das prateleiras! A culpa é da física, que não deixa as pessoas caberem em dois lugares ao mesmo tempo. As prateleiras e na frente da gente. Às vezes acontece. Mas outras a gente consegue ver que essa lei da física é meio furada.

Anônimo disse...

Como sempre.... o q dizer? nao tem mais elogios ahhaha ja estao cliche demais :D
Eu me pergunto se, ao inves das pessoas quase nunca virarem a esquina, nao eh exatamente o contrario... ou seja, por vc ter colocado elas na prateleira quer dizer q possivelmente daria certo pro resto da sua vida. As pessoas q nao estao na prateleiras nao tem esse status, e simplesmente nao funcionariam pro resto da vida, ou melhor, por um longo tempo.
Se, e somente se, essas pessoas retornarem da prateleira, e retornarem bem (de uma forma compativel) eh o q se poderia chamar de par ideal, alma gemea, ou o q quiser :p Nao q dure para sempre, mas que seja um looooongo tempo.

Parabens mais uma vez, nao vejo a hora do proximo :D
bjs

Marcela Bertoletti disse...

E os arrepios que nos fazem viver é que tornam a vida boa, apesar de todos os contratempos.
As vezes espero por uma virada de esquina, com sabor de reencopntro, que abale um pouco as estruturas, mas tb acho q isso é mt coisa de filme msm.
Adorei seu texto, me fez refletir sobre as prateleiras

bjs

Anônimo disse...

oi
li seus textos. sao sofregos.
realmente ruins.
por um acaso voce gosta das pontes de madison?? por acaso voce le romances agua com açucar da harlequim?? voce pintou sua casa de tons pasteis,no dos estilo cenarios das novelas de manoel carlos?? putz.
nao ha profundidade dramatica nos personagens, e as historias sao podres.
cara, espero realmente que nao escreva isso pra viver, por que vai morrer de fome.
graças a deus vai morrer de fome.

 

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