23 junho 2009

Estação Largo do Machado

Desembarque pelo lado direito.
Felipe e Érica saíram de mãos dadas do vagão e caminharam até as escadas. Ele era o boêmio, eclético, sem estilo nem tendência. Nunca reparou que aquilo não deixava de ser um estilo. Inteligente, teimoso, não perdia argumentos, mas soava esforçado demais, às vezes. Sonhava alcançava os sonhos. Estava onde queria estar: de mãos dadas com Érica. Menina de beleza pouco explorada, estudante de ciências sociais, polemista sem ser polêmica. Ela era o Brasil cara-pintada, militante autônoma, consciente e literária. Apertava a mão dele com força e sabia andar e conversar olhando apenas nos olhos. Nunca tropeçava.

De frente para as escadas, Ella passou correndo. Muito branca, tênis velho e a calça segura apenas pelos ossinhos saltados do quadril. Felipe não conseguiu não achá-la linda. Olhou Érica e sua excitação pós-ditadura enquanto Ella tinha um ar de rebelde de 68, muito livre numa casca de noz. Felipe a amou enquanto subia as escadas. Amou os dias em que Ella discutia política internacional e quando iam ao cinema. Adorou suas amigas meio hippies e os pais que moravam em outro estado. Ele a levaria para todas as praias que conhecia, os bares escondidos de santa tereza onde se considerava amigo dos garçons e terminaram na casa dela.

Quando Ella subiu o primeiro degrau, Felipe mudou para sua casa. Era livre demais, distraída demais, andava olhando para o chão e soltava a mão dele para perder-se. Ella o amava, mas Felipe era sem objetivo, sem organização e, quase no topo, ele a deixou. Deu-lhe um beijo na saída da estação e não quis mais vê-la. Ella sumiu no Largo do Machado sem sabermos se chorou ou não.

Felipe, recém-separado e seguindo a vida, olhou Érica, tanta coisa nela por descobrir e d'Ella já sabia tudo. Então, pisaram juntos o primeiro degrau.
 

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