Os ombros doíam de uma luta quase cotidiana contra seus demônios. Pequenas figuras dentuças com rabinhos pontudos cor de carmim. Monstros interiores, capitães de falanges inteiras, cuspidos para fora em palavras amargas e amarelas. Egoísmos extremos, ressentimentos, vaidades, a vontade de cuspir na cara daquele que julgou, que apontou o dedo sem olhar a própria mão e que segue como se estivesse certo. Você, o apontado, caminha com a terrível sina de ouvir ecoar injustiças. As bondades feitas são esquecidas porque não deram certo. O pensamento de nunca mais fazer pelos outros o que eles não farão por você.
Houve época de calmarias, sem batalhas trágicas dentro das entranhas e foi acreditar ingenuamente que os dias continuariam claros para tudo desmoronar. A decepção é a primeira vitória dos demônios interiores e quando ela ganha várias vezes seguidas é sinal que já dominaram portões e trincheiras e aquartelaram-se no corpo e na mente. Um olho vê contra-ataque, o outro é espião. As palavras saem secas e inflamadas, a impressão de redenção vem pela dor ao outro. Ter a certeza de que dias bonitos existem da sua pele pra fora e nunca mais. A chuva incessante provoca inundações e escorre, carregando tudo do peito ao dedo do pé.
Você torce para que um canto de alma ou pele ainda não conquistado lidere rebeliões, convulsionando uma mente já meio dormente e rachada repleta de pedaços de lembranças-lata-velhas. Cacos de espelho no sol. Rebeldes empurrando demônios de língua afiada para um abismo, transformando-os em letras raivosas em folhas tão brancas. Durante horas, nas noites, caem nos abismos e são trancafiados em seguida. Pensamentos negros e humanos demais. O corpo rígido em trabalho constante de cuspir tudo, de conter, com a força dos dedos sobre o papel, maldades mínimas contra si e contra o outro. Por isso os ombros doem, as mãos suam, as costelas apertam os pulmões. Você surta em silêncio.
A mente se limpa por algum tempo e é possível chorar e apreciar o sol sem tirar disso fatos com os quais se cortar. Os cadernos deveriam ser enterrados e os mapas incendiados como se fez com os baús que guardavam Lúcifer e seus anjos mas acabam por azedar na prateleira ao alcance das mãos.
Não parecem ter fim os demônios e, mesmo assim, os revoltados nunca desistem.
Houve época de calmarias, sem batalhas trágicas dentro das entranhas e foi acreditar ingenuamente que os dias continuariam claros para tudo desmoronar. A decepção é a primeira vitória dos demônios interiores e quando ela ganha várias vezes seguidas é sinal que já dominaram portões e trincheiras e aquartelaram-se no corpo e na mente. Um olho vê contra-ataque, o outro é espião. As palavras saem secas e inflamadas, a impressão de redenção vem pela dor ao outro. Ter a certeza de que dias bonitos existem da sua pele pra fora e nunca mais. A chuva incessante provoca inundações e escorre, carregando tudo do peito ao dedo do pé.
Você torce para que um canto de alma ou pele ainda não conquistado lidere rebeliões, convulsionando uma mente já meio dormente e rachada repleta de pedaços de lembranças-lata-velhas. Cacos de espelho no sol. Rebeldes empurrando demônios de língua afiada para um abismo, transformando-os em letras raivosas em folhas tão brancas. Durante horas, nas noites, caem nos abismos e são trancafiados em seguida. Pensamentos negros e humanos demais. O corpo rígido em trabalho constante de cuspir tudo, de conter, com a força dos dedos sobre o papel, maldades mínimas contra si e contra o outro. Por isso os ombros doem, as mãos suam, as costelas apertam os pulmões. Você surta em silêncio.
A mente se limpa por algum tempo e é possível chorar e apreciar o sol sem tirar disso fatos com os quais se cortar. Os cadernos deveriam ser enterrados e os mapas incendiados como se fez com os baús que guardavam Lúcifer e seus anjos mas acabam por azedar na prateleira ao alcance das mãos.
Não parecem ter fim os demônios e, mesmo assim, os revoltados nunca desistem.